Fundos de Investimento: Bom Negócio ou Cilada?

03/04/2018André AraújoInvestimentos

Fundos de Investimento funcionam como uma espécie de condomínio, em que os proprietários – chamados de cotistas – que adquirem cotas desse condomínio confiam ao gestor as decisões sobre o que comprar, quando comprar e quando vender.

Fundos de Investimento são, em essência, um conveniente serviço de seleção de ativos e gestão de uma carteira de investimentos, segundo critérios previamente definidos em seu regulamento.

Pode ser um bom negócio para quem tem disciplina para poupar e investir, mas não tem tempo ou conhecimento para selecionar e aprender sobre investimentos.

Contudo, nem tudo são flores. Pelo serviço prestado pelo gestor, o investidor paga uma taxa de administração e, em alguns casos, uma taxa de desempenho, chamada de taxa de performance.

Existe uma variedade enorme de fundos de investimento disponíveis no mercado, com os mais diversos perfis e estratégias de investimento.

Assim, é importante entender como funcionam, os tipos de fundos de investimento existentes e as taxas aplicadas. É importante, também, avaliar se seu perfil se adequa à algum fundo existente.

Mas não se preocupe que neste artigo vou te explicar tudo que você precisa saber para investir em um fundo de investimento, ou para avaliar seu fundo de investimento atual.

Conteúdo

Como Funcionam os Fundos de Investimento?

Ao decidir por comprar cotas de um fundo de investimento, você está concordando em remunerar uma empresa para que ela faça seu dinheiro render seguindo determinadas estratégias de investimento. Estratégia essa, definida previamente no regulamento do fundo.

Nem preciso dizer o quão fundamental é que você avalie esse regulamento antes de investir, né?! Afinal, é o seu dinheiro que o fundo está investindo, logo deveria ser de seu interesse saber onde o gestor está aplicando sua grana.

Existem fundos de investimento dos mais diversos tipos. Há aqueles que investem apenas em títulos públicos; aqueles que investem em títulos públicos e privados e ainda os que são fundos que investem em outros fundos.

Além desses, os fundos de investimento podem investir em ações, dólar, ouro, ou um pouco de cada.

Os fundos de investimento são extremamente rentáveis para as instituições que os oferecem (geralmente bancos ou corretoras).

Não faz sentido para o banco recomendar que você invista em títulos públicos, privados, ações e debêntures, por exemplo, se eles podem fazer isso por você cobrando um percentual do seu patrimônio todos os anos.

A taxa de administração é cobrada sobre o patrimônio líquido do fundo, não do rendimento. Isso significa que você pagará a taxa mesmo que o fundo venha a ter prejuízo.

Agora você já sabe o porque de seu gerente nunca ter te ligado oferecendo títulos públicos, né!? Eles preferem oferecer fundos DI e fundos de renda fixa do banco onde trabalham.

Estes fundos de investimento provavelmente irão cobrar para investir seu dinheiro taxas de 1 a 4% por ano sobre seu patrimônio investido.

Exemplo:

A título de exemplo, vamos pegar o fundo de investimento com maior patrimônio do Banco do Brasil atualmente: o BB Renda Fixa LP 100.

Coincidentemente, me lembro muito bem desse fundo, pois foi minha primeira aplicação em renda fixa da vida. Isso a vários anos atrás, antes de eu me interessar pela área de finanças e começar a entender como funcionam os investimentos.

Lembro que a gerente me convenceu com o argumento de que poderia começar a investir com apenas R$100,00 e o dinheiro iria ser transferido automaticamente da minha conta corrente para o fundo; e que isso faria com que meu dinheiro rendesse sem que eu me preocupasse. Quanta gentileza!

Como você pode ver na imagem abaixo o fundo cobra incríveis 3,8% de taxa de administração.

Além disso, ao analisar o regulamento do fundo (imagem abaixo), é possível verificar que o fundo em questão investe 100% em outros fundos do próprio Banco do Brasil, dos quais investem apenas em títulos públicos.

E cá pra nós, qualquer um pode aprender a investir em títulos públicos através do tesouro direto.

Eu mesmo tenho um guia aqui no BLOG sobre como investir no tesouro direto e você pode acessá-lo no link abaixo.

Guia: Como investir no Tesouro Direto.

A Realidade Brasileira

Se você já tem fundos de investimento pode descobrir onde os gestores do fundo estão investindo o seu dinheiro. As instituições são obrigadas a informar onde investem o dinheiro dos cotistas.

É muito triste observar que milhares de cotistas pagam 3,8% do seu patrimônio todos os anos, enquanto poderiam pagar apenas 0,3% a.a. de taxa de custódia para a BM&FBOVESPA, através de uma corretora que não cobra taxa de administração (existem várias).

Além disso, se você somar às outras centenas de fundos deste tipo existentes no mercado, verá que são milhões de brasileiros que jogam milhões de reais no lixo todos os anos, devido à falta de educação financeira.

Assim, essa ignorância financeira é que faz com que os bancos continuem a oferecer produtos de baixíssima rentabilidade para as pessoas.

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É bom lembrar que existem fundos de investimento que oferecem rentabilidades maiores por cobrarem taxas de administração menores. Porém, estes fundos costumam ser de instituições menores e pouco acessíveis ou de bancos grandes que exigem um investimento inicial muito elevado.

No Itáu, por exemplo, para ter uma taxa de administração de 0,75% a.a você precisaria de um investimento inicial de R$300.000. E o mesmo acontece nos outros bancos.

Taxa de Performance

Vale lembrar que além da taxa de administração, muitos fundos de investimento ainda cobram a chamada taxa de performance. Neste caso, portanto, o fundo fica com uma parte da sua rentabilidade caso ele consiga atingir uma boa performance.

Por exemplo, se o gestor do fundo conseguir superar o CDI (taxa DI) ele fica com 25% do que exceder. O cotista ficaria, portanto, com 75% daquilo que exceder o CDI.

Leitura recomendada: O que é o CDI?

Quando os fundos que cobram taxa de performance divulgam a rentabilidade do fundo, essa rentabilidade já está com a taxa administrativa e taxa de performance descontadas.

Outras Despesas

Existem outras despesas que podem reduzir a rentabilidade de um fundo de investimento. Essas despesas aparecem no demonstrativo do fundo.

Exemplos comuns:

Taxa de entrada e saída: Taxa cobrada ao entrar e sair de um fundo de investimento. Apesar de não ser comum, pode ser aplicada;
Despesas com impressão, expedição e publicação de relatórios financeiros;
Envio de correspondências com comunicados aos cotistas;
Custos de corretagem;
Etc.

Glossário

FICFI

Para a melhor compreensão dos fundos de investimento é importante conhecer alguns termos específicos utilizados na nomenclatura destes fundos.

Assim, o conhecimento destes termos farão com que o investidor identifique logo de cara qual o tipo de fundo e em que ele investe.

DI: A taxa DI é um referencial (bem próximo do CDI) utilizado como meta de rentabilidade de alguns fundos. Pode ser consultada diariamente pelo site da CETIP.
CP: Identifica os fundos de curto prazo;
LP: Identifica os fundos de longo prazo;
FIA: Identifica que o fundo em questão se trata de um fundo de ações;
RF: Fundo de Renda Fixa;
FIM ou MM: Fundos Multimercado;
REF: São fundos referenciados. Por exemplo um fundo REF DI, significa que o fundo tem como meta atingir a rentabilidade baseada na taxa DI (CDI).

Tipos de Fundos de Investimentos

Fundo FI ou Fundo FIC:

Os fundos de investimento se dividem basicamente em dois grandes grupos: O FI e o FIC.

O primeiro investe o dinheiro dos cotistas diretamente em títulos públicos, privados, ações, ou qualquer outro ativo.

Já o segundo (FIC ou FICFI) são os fundos que não fazem investimentos diretos. Em outras palavras, estes fundos investem em outros fundos, geralmente da mesma instituição financeira. São os chamados fundos de fundos.

Geralmente no nome do fundo vem a indicação de qual grupo ele pertence, através das siglas FI, FIC ou FICFI.

A densidade de Fundos de Investimentos é grande, oferecendo estratégias para todo tipo de investidor.

Os fundos geralmente são apresentados do mais conservador ao mais arrojado, assim como faremos aqui.

Fundos DI Curto Prazo

Estes fundos de Investimento Investem seu patrimônio exclusivamente em títulos públicos pós-fixados com vencimento não superior a 375 dias e prazo médio da carteira de, no máximo, 60 dias.

Fundos de Renda Fixa Pós-Fixada (Fundos DI)

Investem pelo menos 95% do valor de sua carteira exclusivamente em títulos públicos e operações pós-fixadas com rendimento atrelado à variação do CDI ou da Selic.

Fundos de Renda Fixa Prefixada (Fundos RF)

Investem exclusivamente em ativos de renda fixa prefixada, devendo ter pelo menos 80% do valor de sua carteira investido em títulos públicos federais ou ativos com baixo risco de crédito.

Fundos de Índice de Inflação

São fundos de investimento que investem pelo menos 95% do valor de sua carteira exclusivamente em títulos públicos e operações pós-fixadas com rendimento atrelado à variação da inflação – geralmente referenciados ao IGPM ou IPCA.

Fundos Multimercado

Os fundos multimercado investem seus recursos em diversos tipos de ativos.

Esses fundos são os que oferecem maior liberdade para o gestor do fundo investir o seu dinheiro buscando rentabilidades mais elevadas. O problema é que junto com esta possibilidade de rentabilidades elevadas você também terá que aceitar os riscos maiores de perdas.

Costumam ser alternativas para quem quer diversificar, mas não se sente em condições de fazê-lo por contra própria.

Geralmente, porém, apresentam uma taxa de administração mais elevada.

Fundos Balanceados

Similares aos fundos multimercados, porém com a exigência de explicitar em seu regulamento a composição de cada ativo na carteira – por exemplo, 45% em ações, 45% em renda fixa e 10% em alavancagem.

Este detalhe faz com que o rebalanceamento da carteira se dê de forma automática. Se as ações caem, o gestor é obrigado a comprar ações e se sobem, ele é obrigado a vende-las ou comprar renda fixa.

A lógica deste tipo de fundo é a mesma que sugiro que você tenha em seus investimentos de forma geral, de forma que evite o desespero de vender na baixa e a euforia de comprar na alta.

Fundos de Capital Garantido

É um tipo de fundo de investimento que garante o investidor o capital investido ou, em alguns casos, o capital investido acrescido de algum rendimento. Entretanto, geralmente este tipo de fundo exige do cotista manter seu investimento por um período mais longo.

Fundos de Índice de Ações ou ETFs

Os Fundos de Índice montam sua carteira de forma a espelhar a composição de um índice.

Os mais conhecidos deles são os do Ibovespa (BOVA11 ou IBrX50). Além destes, estão disponíveis fundos que seguem os mais diversos índices; como o de small caps, de dividendos, de bancos, de energia, entre outros.

Dos fundos de ações, este tipo é considerado o mais conservador e um dos mais defensivos no longo prazo.

São negociados através das corretoras, via homebroker.

Fundos de Ações Ativos

Estes fundos podem conter diferentes estratégias (dividendos, small caps, sustentabilidade, etc).

Esta modalidade investe, obrigatoriamente, pelo menos 67% do seu patrimônio em ações.

Fundos Setoriais

Os fundos setoriais investem exclusivamente em empresas de um setor da economia definido em sua política de investimento.

Eles são, portanto, considerados uma alternativa arrojada, por seu caráter especulativo que limita o poder de decisão do gestor.

Fundos Cambiais

Os fundos cambiais investem pelo menos 80% de seu patrimônio em ativos relacionados diretamente à variação do euro ou do dólar, visando acompanhar a cotação da moeda estrangeira com alguma margem de lucro.

Todavia, de maneira geral, a maior parte dessa margem é consumida pela taxa de administração.

Fundos Alavancados

Os fundos alavancados costumam acompanhar fundos de diversas categorias (renda fixa, ações, multimercado).

Os fundos alavancados são os que utilizam mais dinheiro do que têm em seu patrimônio para realizar uma operação. Assim, visam uma maior possibilidade de retorno com maior risco.

Fundos de Investimento Imobiliário

Popularmente conhecidos como FIIs, os Fundos de Investimento Imobiliário, como o próprio nome diz, é um fundo com cotas negociadas na bolsa de valores. É portanto, um investimento em renda variável.

Diferentemente dos fundos de investimento tradicionais que são oferecidos pelos bancos; os FIIs são fundos fechados no sentido do resgate das cotas.

A compra e venda é feita diretamente de investidor para investidor. Ou seja, toda vez que há algum negócio, há uma parte compradora e outra vendedora.

Por lei, os fundos imobiliários são obrigados a distribuir 95% do lucro aos seus cotistas. A periodicidade da distribuição é semestral.

Tenho um artigo dedicado inteiramente aos fundos imobiliários, caso deseje saber mais você pode acessá-lo aqui.

Fundos de Previdência

São fundos de longo prazo, caracterizados pela cobrança de taxa de carregamento e benefícios tributários.

Você pode saber mais sobre as previdências privadas e os fundos de previdência no artigo abaixo:

Previdência Privada: Vale a Pena?

Conclusão

Os fundos de investimento são uma alternativa para aqueles que possuem disciplina para poupar e investir, mas que não possuem tempo ou conhecimento para selecionar e aprender sobre investimentos. Além disso, os fundos multimercado oferecem a opções de diversificação dos investimentos.

Essa comodidade de ter um gestor para investir para você, entretanto, tem um preço, chamado de taxa de administração.

Desse modo, na maioria dos fundos, você paga uma taxa para alguém investir seu dinheiro de uma maneira que você, possivelmente, conseguiria fazer sozinho.

Assim, minha recomendação é sempre que você estude e tente entender um pouco mais sobre investimentos, de forma que você possa fazer suas próprias escolhas e garantir uma rentabilidade maior ao evitar o pagamento de taxas.

Aqui no BLOG e no meu canal no Youtube, tenho diversos artigos e vídeos para facilitar sua vida na hora de se organizar financeiramente e na hora de investir seu dinheiro.

Não deixe de visitar o Youtube, assistir aos vídeos e inscreve-se no meu canal.

Você pode acessar os vídeos por aqui.

Um grande abraço e até a próxima!